Acabei de ler um livro com o título acima, escrito pela doutora Fernanda De Nigri, que é economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e estudiosa da inovação no Brasil. O livro, organizado pelo Wilson Center e pela Interfarma, tem o apoio do Ipea e pode ser acessado gratuitamente no site da Interfarma. Eu tive o prazer de participar como comentador de seu lançamento na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Acho que inovação em saúde é um dos desafios importantes da área no país e não entendo inovação como sendo somente a área de produção de novas drogas. Vejo de forma mais ampla, entendendo que precisamos inovar horizontalmente na saúde — produtos e processos. Para que consigamos fazer frente ao imenso desafio de oferecer um sistema de saúde mais acessível e resolutivo, teremos que aceitar o desafio de reconstruir o processo de oferecer ações e serviços de saúde para a nossa população e com uma participação ampla da sociedade, sem separar o que é o esforço público do esforço privado, que devem ser complementares.
A Fernanda destrincha no seu livro a questão da inovação olhando para a área da farmacêutica, mas é possível, por meio dos dados que ela alinhava, olhar de forma mais abrangente para os gargalos da inovação na saúde no Brasil.
Ela desnuda um bom número de indicadores, como, por exemplo, trabalhos publicados, citações, patentes registradas, número de doutores e engenheiros formados e investimentos em inovação.
Ou seja, faz um cenário do desempenho científico e tecnológico brasileiro, bem como do processo de educação e formação de cientistas. Também analisa as condições de infraestrutura de nosso parque tecnológico, o ambiente para o desenvolvimento tecnológico e a questão das políticas públicas e do investimento em PD&I.
Quando realizei meus comentários, brinquei com a autora dizendo que nunca tinha lido tantas obviedades sobre um assunto. E é verdade, ela conseguiu reunir uma imensa quantidade de dados que nos levam a um conjunto de conclusões óbvias. O que não quer dizer simples! O trabalho dela juntou, em um único cenário, um conjunto que deve levar à reflexão e, daí a ação para conseguirmos dar o salto que o país necessita para sair de seu estágio de subdesenvolvimento.
Mas o que me estimulou mais, em todo o livro, foi uma obviedade que muitas vezes não reconhecemos: uma inovação somente se realiza quando ela chega ao mercado e é consumida… se torna necessária!
Nós nos perdemos no meio do caminho achando que deve ser ou público ou privado e criamos uma celeuma que nos impede de ver que a inovação deve chegar a população; e é por meio desse ser impalpável chamado mercado que necessariamente tem que ser regulado pela mão do Estado em nome da sociedade que a inovação realiza seus efeitos — cria condições para melhorar a vida!
Vamos voltar a esse tema, mas pense na sua simplicidade e complexidade e, se possível, baixe e leia o livro.